Netanyahu defende planos para Gaza enquanto Israel é duramente criticado no Conselho de Segurança da ONU
Benjamin Netanyahu chamou de 'falsas' as fotos de crianças com fome em Gaza que ganharam repercussão mundial nas últimas semanas
Publicado em 11/08/2025 08:36
NOTICIAS INTERNACIONAIS
Jenna Moon, Matt Spivey, Neha Gohil e Amy Walker Role,BBC News

Embaixadores da Organização das Nações Unidas (ONU) condenaram os planos de Israel de "tomar o controle" de Gaza, enquanto o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, insistiu que essa é a "melhor maneira" de encerrar a guerra.

 

Durante uma coletiva de imprensa, que, segundo Netanyahu, visava "desmascarar as mentiras", o líder israelense afirmou que a ofensiva planejada avançaria "com bastante rapidez" e "libertaria Gaza do Hamas". 

Ele também afirmou que os reféns israelenses mantidos em Gaza eram "os únicos que estavam sendo deliberadamente submetidos à fome" e negou que Israel estivesse fazendo o mesmo com os moradores da região. 

Israel também foi duramente criticado em uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU realizada neste domingo (10/8).

Reino UnidoFrança e outros países alertaram que o plano do país corre o risco de "violar o direito internacional humanitário". 

Juntamente com DinamarcaGrécia e Eslovênia, esses países pediram a reversão do plano, e acrescentaram que ele "não faria nada para garantir o retorno dos reféns e arriscaria ainda mais as vidas desses indivíduos".

 

Outros membros do conselho expressaram preocupação semelhante. A China considerou inaceitável a "punição coletiva" da população de Gaza, enquanto a Rússia alertou contra uma "intensificação imprudente das hostilidades". 

O Secretário-Geral Adjunto da ONU, Miroslav Jenca, declarou na reunião: "Se esses planos forem implementados, provavelmente desencadearão outra calamidade em Gaza, com repercussões por toda a região e mais deslocamentos forçados, assassinatos e destruição."

 

Ramesh Rajasingham, do escritório humanitário da ONU, disse que a crise da fome em Gaza não era mais algo iminente, mas, sim, uma "fome pura e simples". 

O Conselho de Segurança tem pedido constantemente a libertação incondicional e imediata dos reféns.

"E estamos certos de que o Hamas deve se desarmar e não desempenhar nenhum papel futuro na governança de Gaza, onde a Autoridade Palestina deve ter um papel central. Mas essa decisão do governo israelense não fará nada para garantir o retorno dos reféns e corre o risco de colocar ainda mais em risco suas vidas", pontua um texto divulgado pelo conselho. 

A declaração também pede que Israel suspenda as restrições às entregas de ajuda. Israel tem afirmado que não há restrições à entrada de ajuda em Gaza. 

Mais de 100 organizações humanitárias, entre elas Save the Children, Oxfam e Médicos sem Fronteiras, publicaram um comunicado conjunto em que denunciam o que classificam como "fome generalizada" em Gaza. 

No entanto, os Estados Unidos defenderam Israel. A embaixadora Dorothy Shea afirmou na reunião que os EUA trabalham "incansavelmente" para libertar os reféns e encerrar a guerra, e que a reunião minou esses esforços. 

Ela acrescentou que a guerra "poderia terminar hoje se o Hamas libertasse os reféns" e acusou outros membros de se aproveitarem da reunião para "acusar Israel de genocídio", uma alegação que ela insistiu ser "comprovadamente falsa". 

Mais tarde neste domingo (10/8), o gabinete de Netanyahu informou que ele conversou com o presidente dos EUA, Donald Trump, sobre os planos de Israel. 

Milhares de manifestantes também foram às ruas em todo o país para se opor ao plano do governo, por temer que a iniciativa coloque em risco a vida de reféns. 

Durante a coletiva de imprensa, Netanyahu afirmou que as Forças de Defesa de Israel (FDI) receberam instruções para desmantelar os "dois redutos restantes do Hamas" na Cidade de Gaza e uma área central ao redor de al-Mawasi. 

Ele também delineou um plano de três etapas para aumentar a ajuda em Gaza, que inclui a designação de corredores seguros para a distribuição de ajuda humanitária e mais lançamentos aéreos por forças israelenses e outros parceiros. 

O plano também incluiria o aumento do número de pontos de distribuição seguros administrados pela controversa Fundação Humanitária de Gaza (FGH), apoiada pelos EUA e por Israel. 

A ONU informou no início deste mês que 1,3 mil palestinos foram mortos em busca de comida desde o final de maio, quando a FGH montou pontos de distribuição de auxílio e comida. 

Netanyahu alegou que o Hamas havia "saqueado violentamente os caminhões de ajuda" e, quando questionado sobre os palestinos mortos nos locais do GHF, disse que "muitos tiros foram disparados pelo Hamas". 

Perguntado sobre os reféns israelenses que ainda estão em Gaza — 20 deles ainda estão vivos, pelas informações disponíveis — Netanyahu afirmou: "Se não fizermos nada, não os resgataremos."

 

O líder israelense também criticou a imprensa internacional, ao afirmar que ela havia acreditado na propaganda do Hamas. 

Ele classificou como "falsas" algumas das fotos de crianças desnutridas em Gaza, publicadas nas primeiras páginas de jornais do mundo todo.

Durante a guerra, Israel não permitiu que jornalistas internacionais entrassem em Gaza para fazer reportagens livremente. 

Mas Netanyahu disse que uma diretiva que ordena aos militares israelentes que jornalistas estrangeiros podem ir à região estava em vigor há dois dias. 

Desde sábado (9/8), cinco pessoas morreram em decorrência de fome e desnutrição em Gaza, o que fez o número total de mortes subir para 217, de acordo com o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas. 

O relatório também afirma que, no total, mais de 61 mil pessoas foram mortas em decorrência da campanha militar israelense desde 2023.

Israel lançou sua ofensiva em resposta ao ataque liderado pelo Hamas no sul do país em 7 de outubro daquele ano, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 foram feitas reféns.

No passado, os dados do Ministério da Saúde administrado pelo Hamas eram amplamente utilizados em tempos de conflito e considerados confiáveis pela ONU e outras organizações internacionais.

 Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4gzzlxnxy5o

 
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