Parte do agronegócio brasileiro continua em alerta com a entrada em vigor, a partir da próxima quarta-feira (06.08), da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos como café, carnes, ovos, açúcar, mel, pescados e frutas tropicais.
Conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), os produtos do agronegócio atingidos pelo tarifaço somaram US$ 5,4 bilhões em exportações aos EUA no último ano, o que correspondeu a cerca de 1,6% dos US$ 337 bilhões que é a soma total das exportações nacionais de 2024.
Isso significa que, mesmo que todo esse valor fosse perdido em função das tarifas — o que é improvável, já que alguns produtos inicialmente incluídos na lista, como castanha, polpa e suco de laranja foram excluídos do tarifaço e outros estão em negociação -, o impacto direto sobre o total exportado pelo Brasil ficaria entre 1% e 1,5%.
Ainda assim, setor importantes, como o carnes, pescados e frutas devem sofrer com a medida. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) estima que as exportações para os EUA possam cair em até 200 mil toneladas em 2025, resultando em perdas próximas a US$ 1 bilhão. Essa perspectiva levou frigoríficos a reduzir a produção voltada ao mercado americano, pressionando para baixo o preço da arroba e afetando a renda dos pecuaristas.
No segmento de pescados, a situação também é crítica. A Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca) já solicitou ao governo federal uma linha emergencial de crédito de R$ 900 milhões para manter o capital de giro das empresas, que têm grande parte da produção pronta para exportação. A ausência de medidas de apoio pode levar a um aumento de pedidos de recuperação judicial no setor, devido à dificuldade em redirecionar rapidamente os volumes para outros mercados.
A fruticultura brasileira, que tem na manga e na uva seus principais produtos para o mercado americano, enfrenta grandes desafios. A Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) considera inevitável solicitar ajuda governamental caso a sobretaxa não seja revista. A manga, principal fruta exportada para os EUA, e o cacau podem ser excluídos da lista de tarifas, mas há dúvidas sobre a inclusão de outras frutas tropicais, como o mamão, e a exclusão da uva, o que preocupa produtores do Vale do São Francisco, onde há risco de perdas expressivas.
O café, embora continue com forte demanda internacional, está sob pressão para ser incluído na lista de exceções às tarifas. Exportadores buscam negociar com urgência para evitar perdas adicionais, já que os EUA são um dos maiores compradores do produto brasileiro.
Enquanto isso, ovos — que tiveram aumento expressivo nas exportações para os EUA em 2025, em função da gripe aviária no mercado norte-americano — também deverão ser afetados pela sobretaxa, mesmo representando menos de 1% da produção nacional total.
Diante desse cenário, o governo federal marcou para amanhã (04.08) uma reunião do vice-presidente Geraldo Alckmin, o ministro da Agricultura Carlos Fávaro e lideranças do agronegócio para discutir medidas emergenciais, como linhas de crédito e apoio financeiro. Também continuam os esforços diplomáticos para tentar reverter ou minimizar os impactos da tarifa.
A expectativa do setor é que, além das medidas de curto prazo, o Brasil possa acelerar a diversificação de seus mercados internacionais, ampliando a presença em países como China, Oriente Médio e União Europeia, para reduzir a dependência do mercado americano e fortalecer a resiliência do agronegócio nacional.
Fonte: https://pensaragro.com.br/agronegocio-corre-contra-o-tempo-para-conter-danos-do-tarifaco-dos-eua/