Israel realizou uma série de ataques de grande proporção contra o Irã na madrugada de sexta-feira (13/06) em horário local — noite de quinta-feira (12/06) no Brasil. Por sua vez, o governo israelenses declarou estado de emergência no seu território na expectativa de retaliações.
Israel diz que o Irã lançou cerca de 100 drones em direção a Israel na manhã de sexta-feira e, de acordo com as Forças de Defesa de Israel (FDI), muitos deles foram interceptados.
Segundo a mídia estatal iraniana, o chefe do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, Hossein Salami, e o cientista Fereydoon Abbasi, ex-chefe da agência nuclear do país, foram mortos nos ataques de Israel na sexta-feira. O Irã disse que seis cientistas nucleares morreram.
A morte de Salami é um duro golpe para Teerã. A Guarda Revolucionária Islâmica (GRI) é uma força militar estratégica, política e econômica no Irã, com laços estreitos com o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei.
Khamenei, afirmou que, com a operação, Israel "preparou para si mesmo um destino amargo, que certamente receberá."
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, afirmou que os ataques israelenses foram uma "declaração de guerra" em uma carta às Nações Unidas, segundo a agência de notícias AFP. A carta também afirma que Araghchi pediu ao Conselho de Segurança da ONU que "trate imediatamente desta questão".
O porta-voz das Forças Armadas do Irã, Abolfazl Shekarchi, afirmou que os Estados Unidos e Israel pagarão um "preço alto", segundo a agência Reuters.
Os EUA, no entanto, declararam que o ataque foi uma decisão "unilateral" de Israel. Em Tel Aviv, israelenses estão estocando comida e água na expectativa de uma resposta do Irã.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou em pronunciamento que o ataque "atingiu o coração do programa de enriquecimento nuclear do Irã" e teve como alvo cientistas iranianos que trabalhavam no desenvolvimento de bombas.
A principal instalação de enriquecimento do Irã, na cidade de Natanz, a cerca de 225 km ao sul da capital Teerã, foi atacada, disse Netanyahu.
"Após o ataque preventivo do Estado de Israel contra o Irã, um ataque com mísseis e drones contra o Estado de Israel e sua população civil é esperado em um futuro próximo", diz comunicado do Ministério de Defesa israelense.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) escreveram nas redes sociais que dezenas de jatos "completaram a primeira etapa" do ataque, que inclui dezenas de alvos militares e nucleares do Irã.
A mídia estatal iraniana noticiou que áreas residenciais da capital foram atingidas, além do quartel-general da Guarda Revolucionária — braço das forças armadas e uma das instituições mais poderosas do país.

Carros destruídos em Teerã após operação israelense; segundo Tel Aviv, ataques foram "preventivos"
Voos no Aeroporto Internacional Imam Khomeini, em Teerã, estão suspensos.
Em Jerusalém, moradores foram acordados por sirenes seguidas de um alerta no celular.
Em nota, Netanyahu afirmou que a operação, chamada de Leão Ascendente, "continuará por quantos dias forem necessários".
"Nos últimos meses, o Irã tomou medidas nunca antes tomadas, medidas para transformar este urânio enriquecido em arma", afirmou o primeiro-ministro.
"Se não for interrompido, o Irã poderá produzir uma arma nuclear em um prazo muito curto. Pode levar um ano. Pode levar alguns meses, menos de um ano. Este é um perigo claro e presente para a própria sobrevivência de Israel."
'Apenas começando'
Israel disse nesta sexta-feira que a Operação Rising Lion ("Leão Crescente") está apenas começando.
Os ataques realizados até agora não visaram apenas pessoas e pontos do programa nuclear iraniano, mas também as defesas aéreas do país. Segundo Paul Adams, repórter de assuntos diplomáticos da BBC, isso sugere que Israel está preparando o terreno para novos ataques nos próximos dias.

Netanyahu afirmou que ataque 'continuará por quantos dias forem necessários'
Israel afirma que o ataque ao Irã envolveu 200 jatos, mas alguns relatos apontam que pode ter havido algum tipo de elemento clandestino semelhante ao recente ataque de drones da Ucrânia a bases aéreas russas.
Fontes de segurança disseram que a agência de espionagem israelense, Mossad, contrabandeou drones explosivos para o Irã "bem antes do ataque israelense".
Acredita-se que os drones tenham sido usados para atacar lançadores de mísseis que poderiam representar uma ameaça a Israel no caso de uma retaliação iraniana em larga escala.
Mas os drones que o Irã lançou até agora parecem em grande parte simbólicos — muito distantes do grande ataque de mísseis balísticos de Teerã contra Israel em outubro passado.
Acredita-se que a retaliação israelense, no final daquele mês, tenha como alvo as defesas aéreas e a produção de mísseis e drones do Irã, o que certamente tornou o Irã mais vulnerável a ataques futuros e reduziu sua capacidade de retaliar.
Segundo Adams, apesar de toda a sua retórica bélica, a capacidade do Irã de dar uma resposta militar direta não é mais a mesma.
O chefe da agência de vigilância nuclear da ONU (AIEA) classificou os ataques israelenses às instalações nucleares do Irã como "profundamente preocupantes".
Em declaração aos membros do conselho, Rafael Grossi afirma: "Tenho afirmado repetidamente que instalações nucleares jamais devem ser atacadas, independentemente do contexto ou das circunstâncias, pois isso pode prejudicar tanto as pessoas quanto o meio ambiente".
"Tais ataques têm sérias implicações para a segurança, a proteção e as salvaguardas nucleares, bem como para a paz e a segurança regionais e internacionais."
Ele apelou "a todas as partes para que exerçam a máxima contenção para evitar uma nova escalada", afirmando que "qualquer ação militar que coloque em risco a segurança das instalações nucleares corre o risco de graves consequências para o povo do Irã, da região e de outras regiões".
Ele afirmou estar em contato próximo com os inspetores da AIEA no Irã, depois que Israel afirmou ter como alvo o "coração" do programa nuclear iraniano.
Na quinta-feira, o órgão de fiscalização havia declarado formalmente que o Irã violou suas obrigações de não proliferação pela primeira vez em 20 anos.
Trump contra os ataques; Putin preocupado

Prédio danificado após ataques israelenses em Teerã; Israel disse se tratar de uma operação "preventiva"
Autoridades americanas foram informadas na quarta-feira (11/06) que Israel estava prestes a lançar uma operação contra o Irã, informou a CBS, parceira americana da BBC, citando autoridades familiarizadas com o assunto.
Segundo essas fontes, esse foi um dos motivos pelos quais os EUA aconselharam alguns americanos a deixarem a região. Membros do governo americano também acreditam que o Irã pode retaliar em certos postos americanos no Iraque.
Os ataques ocorrem depois que os EUA anunciaram a evacuação do pessoal não essencial de sua embaixada em Bagdá, no Iraque, devido ao aumento dos riscos à segurança.
As autoridades americanas não especificaram o motivo exato da evacuação, mas a emissora CBS, parceira da BBC nos EUA, afirmou que Washington foi informado de que Israel estava pronto para lançar uma operação no Irã.
Essa foi uma das razões que fez com que alguns americanos deixassem a região, antecipando que o Irã poderia retaliar e atingir algumas instalações americanas no Iraque.
Em um comunicado divulgado logo após o início dos ataques, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que a operação foi uma "decisão unilateral de Israel".
As autoridades americanas também restringiram a circulação de seu pessoal dentro do território israelense.
A nova escalada do conflito acontece num momento em que as negociações entre Teerã e os Estados Unidos sobre o programa nuclear iraniano pareciam ter estagnado.
Nesta quinta-feira, perguntaram ao presidente dos EUA, Donald Trump, sobre a possibilidade de um ataque israelense ao Irã, e ele foi explícito ao afirmar que não queria que isso acontecesse.
"Enquanto acreditar que haverá um acordo [nuclear com o Irã], não quero que se concretize", declarou, acrescentando que qualquer ataque poderia arruinar as negociações.
Apesar disso, Trump disse que acreditava que um ataque estava "bastante próximo".
"Não quero dizer que seja iminente", comentou sobre um possível ataque israelense. "Mas parece algo que realmente poderia acontecer."
Além disso, Trump afirmou que gostaria de "evitar um conflito".
"Eles [Irã] terão que estar dispostos a nos dar algumas coisas que não estão dispostos a dar agora", afirmou.
O especialista em contraterrorismo Javed Ali, que trabalhou no Conselho de Segurança Nacional durante o primeiro governo de Donald Trump, disse à BBC News que a grande incógnita agora é o que acontecerá com as negociações nucleares previstas entre Irã e EUA, que tinham uma sexta rodada programada para este fim de semana.
"O Irã advertiu que responsabilizaria os EUA se Israel o atacasse e pode tentar atingir bases americanas", afirmou Ali. "Isso ainda não ocorreu, mas, se acontecer, provocaria uma forte resposta de Washington."
Ali acrescentou que "o Irã, por enquanto, não quer envolver diretamente os Estados Unidos nesse conflito, mas a situação é extremamente volátil".
Dmitry Peskov, o porta-voz do presidente russo Vladimir Putin, disse que "a Rússia está preocupada e condena a forte escalada das tensões."
Ele acrescentou que Putin está recebendo atualizações sobre a situação do Ministério da Defesa, do Serviço de Inteligência Estrangeira e do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
A Rússia é uma aliada próxima do Irã.
No início deste ano, os presidentes de Rússia e Irã assinaram um acordo abrangente de parceria estratégica entre seus dois países. Mas o acordo não representa uma aliança militar formal nem inclui obrigações mútuas de assistência militar.
O que se sabe sobre o programa nuclear iraniano
Israel afirma ter "atingido o coração do programa de enriquecimento nuclear do Irã". Mas do que se trata exatamente?
Teerã sustenta há anos que seu programa nuclear tem fins exclusivamente civis. No entanto, possui várias instalações espalhadas pelo país, e pelo menos algumas delas teriam sido alvo dos recentes ataques israelenses.
Apesar das afirmações iranianas, diversos países, assim como o Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), principal entidade de supervisão nuclear mundial, duvidam de que o programa tenha apenas objetivos pacíficos.
Nesta semana, a junta de governadores da AIEA declarou formalmente que o Irã está descumprindo suas obrigações de não proliferação nuclear pela primeira vez em 20 anos. O órgão citou "múltiplas violações" por parte do Irã, incluindo a falta de respostas claras sobre material nuclear não declarado e o volume de urânio enriquecido em sua posse.
Um relatório anterior do AIEA apontou que o Irã enriqueceu urânio a até 60% de pureza, um nível próximo ao grau armamentista, suficiente para fabricar até nove bombas nucleares.
O Irã, por sua vez, classificou a resolução da agência como "política".
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cwy7d4k1pdwo