Relatório de Inteligência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou movimentações financeiras suspeitas entre a GFA Engenharia e Consultoria Ltda., do ex-diretor administrativo-financeiro da Metamat (Companhia Mato-Grossense de Mineração), Gonçalo Ferreira de Almeida, e a FR Engenharia e Poços Ltda., uma das empresas investigadas na Operação Poço Sem Fundo.
A informação consta na decisão da juíza Edna Ederli Coutinho, do Núcleo de Inquéritos Policiais (Nipo), que autorizou a operação, deflagrada no último dia 8 pela Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor).
A ação apura um suposto esquema de fraudes em contratos para perfuração de poços artesianos, firmados entre empresas privadas e a Metamat, envolvendo servidores públicos e empresários, com prejuízos superiores a R$ 22 milhões aos cofres públicos.
Gonçalo é apontado como um dos ordenadores de despesas dentro da Metamat, responsável por autorizar pagamentos às empresas contratadas, entre elas a FR Engenharia, que firmou com a estatal um contrato no valor de R$ 5.034.343,22.
“Destaca-se, dentre as vastas operações atípicas detectadas pelo Coaf no período, a manutenção de relacionamento financeiro suspeito entre a FR Engenharia e a empresa GFA Engenharia e Consultoria Ltda., pertencente a Gonçalo Ferreira Almeida, ex-diretor administrativo-financeiro da Metamat”, consta na decisão.
Gonçalo foi ex-presidente da Câmara de Vereadores de Várzea Grande.
Um dado que chamou atenção dos investigadores foi o aumento expressivo do capital social da FR Engenharia, que cresceu 4000% em apenas quatro meses e meio.
Saques em espécie e movimentações incompatíveis
Além da FR Engenharia e Poços Ltda., também foram alvos da operação a TecnoPoços, Uniko Engenharia, Construtora Santa Lúcia, P.M. Bonini e JM Poços Artesianos e Transportes.
O relatório da Coaf ainda identificou saques em espécie e transferências bancárias de valores elevados e incompatíveis com a capacidade econômica das empresas envolvidas, o que levanta suspeitas de práticas como lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.
No caso da TecnoPoços, o relatório apontou que o sócio Willian Gomes Beatriz realizou 12 saques de altos valores diretamente da conta bancária da empresa, somando R$ 1.785.000.
Outro caso que chamou atenção foi o da Uniko Engenharia. Segundo a apuração, o empresário Jobar Oliveira Rodrigues realizou seis saques em espécie, totalizando R$ 506.150 a partir da conta bancária da empresa.
Para a Polícia Civil, a retirada desses valores em dinheiro vivo, sem justificativa operacional aparente, reforça os indícios de que os contratos foram utilizados como instrumentos para desvio de recursos públicos.
A operação
Ao todo, a operação cumpriu 30 ordens de busca e apreensão, além do sequestro de 49 imóveis e 79 bens móveis em Cuiabá, Várzea Grande e Tangará da Serra.
Também foram feitos bloqueios nas contas bancárias dos investigados e das empresas envolvidas.
As investigações resultaram na identificação de uma suposta associação criminosa instalada na Metamat com o propósito de desviar valores em contratos firmados pela estatal entre 2020 e 2023, cujo objetivo seria promover o abastecimento de água em comunidades rurais.
As empresas deveriam construir poços artesianos e garantir distribuição da água para os moradores próximos.
Contudo, as auditorias realizadas pela Controladoria Geral do Estado apontaram inúmeras irregularidades, como poços que não foram encontrados nos locais indicados ou poços que foram perfurados sem condições de armazenamento da água, e até mesmo casos em que os próprios moradores das comunidades rurais improvisavam modo rudimentar para acessar a água do poço.
Foram identificados poços que teriam sido construídos dentro de propriedades particulares, áreas de pastagens e plantações, garimpos e até dentro de uma granja, além de outros em áreas urbanas, em completo desvio ao objetivo de atender comunidades rurais.
Nas auditorias, a Controladoria Geral do Estado identificou que houve diversas falhas durante a execução das obras e fiscalização, que resultaram no pagamento pela perfuração de poços secos ou improdutivos.
Fonte: https://www.midianews.com.br/judiciario/policia-empresa-de-ex-diretor-recebeu-dinheiro-de-empreiteira/494192